sábado, 26 de setembro de 2009

Capítulo 2- Último Treino (parte 1)


Quando a aula acabou, eu voltei para casa sozinha. Eu tinha que mudar de roupa e me dirigir para o Castelo das Rosas, o local de reuniões dos nighthunters. Me despedi do meu pai e fingi que sua animação me contagiou. Hoje, durante o treino, seriam combinados os últimos detalhes para a noite de iniciação, que seria sexta, ou seja, amanhã. No meio do caminho, encontrei o Mike me esperando, agora só faltava a Emily e o pai dela, que nos levaria ao castelo. Vinte minutos depois, o carro apareceu na rua.

_ Me desculpem pessoal, mas a Emily se atrasou ao se arrumar. _ disse Billy, o pai da Emily, em quanto entrávamos no carro.

_ Tudo bem _ respondi _ Nós já nos acostumamos com esse hábito dela.

Enquanto Mike e o pai da Emily riam do meu comentário, e ela ficava brigando com eles, eu fiquei olhando a paisagem da janela. A primeira vez que vim ao castelo, aos nove anos, fiquei impressionada com toda a riqueza que via. Foi nesse dia que percebi que meu pai, e nenhum dos outros caçadores trabalhavam. Ao perguntar para o meu pai, ele me disse que o sexto sentido que nós tínhamos não servia apenas para perceber a presença de monstros, mas também era muito útil para investimentos na bolsa de valores. Apesar da geração do meu pai, do Billy e de outros pais não ter nascido para ser parte do grande grupo, eles possuíam alguns dons.

Quando chegamos ao castelo, nos despedimos do Billy e fomos até a área de treinos. Chegamos lá, cumprimentamos nossos amigos de treino e nos sentamos a espera do ancião. Ele era um homem velho, rabugento e que havia se aposentado desse árduo trabalho há alguns anos. Sua voz conseguia trasformar emocionantes batalhas em histórias monótonas. Quando ele contou o fim da família que dera início a tudo(a mulher morrera com a idade, o pai e o filho pereceram em batalha), conseguiu fazer todos dormirem, até Mike, a única pessoa que o ouvia com atenção.

_ Finalmente todos se formam amanhã. _ disse o ancião ao chegar na sala. _ Como eu lhes disse antes, esse será o dia mais importante de suas vidas.

A empolgação do Mike ao meu lado estava começando a me irritar.

_ Todos estão familiarizados com o que irá ocorrer durante a cerimônia. Primeiro vocês serão apresentados a suas verdadeiras armas, e não as réplicas com as quais vocês treinam. Depois a equipe composta por um de vocês, um vampiro, um lobisomem e um nighthunter experiente, será formada. Quando todos terminarem sua missão, daremos início a última parte da iniciação, aonde seu destino será escolhido. _ disse o velho senhor com sua voz monótona.

_ Como serão escolhidas as equipes, Senhor? _ perguntou Ted, outro “formando”.

_ Suas armas escolherão entre os membros pré-selecionados que eu apresentarei agora.

Após essa fala, as portas se abriram para dar passagem a comitiva que chegava. Primeiro vieram os nighthunters, homens e mulheres comuns. Alguns rostos eu conhecia, outros eram estranhos para mim. Logo após os caçadores vieram os lobisomens. Rapazes e moças altos, muito bonitos e eternamente jovens. Sua beleza selvagem, da forma humana, era estonteante, pensando bem, eu não me importaria se um lobisomem fosse escolhido para mim. Enquanto voava nesses pensamentos, entrou a comitiva vampira. Se os lobos era belos, nada se comparava a forma humana dos sugadores de sangue. Se assim eram bonitos, em sua forma verdadeira seriam ainda mais. Cada um daqueles rostos belos me chamava atenção, mas um deles me marcou mais. Era um rapaz alto, com olhos castanho médio, e cabelo também castanho e enrolado, como o de um anjo. Sua beleza me deixou tonta, e eu não conseguia parar de olhá-lo.

Enquanto o grupo formado por 21 humanos e criaturas se ajeitava na sala, eu continuava olhando para aquele vampiro. Sua beleza me chamava atenção, e eu fiquei olhando para ele o tempo todo, sem poder desviar olhar. Até que ele se virou e me olhou, como ele provavelmente percebeu que eu estava olhando para ele, eu desviei o olhar na mesma hora e senti o rubor se espalhar pelo meu rosto. Era a primeira vez que isso acontecia comigo, olhar para um garoto e ficar vermelha, principalmente na presença de um vampiro. Foi aí que eu percebi que ele ficou me encarando por um bom tempo sem desviar os olhos. Aquilo estava me deixando nervosa, então resolvi tirar os olhos do chão e olhar para os outros grupos, o que não melhorou o meu ânimo, pois percebi que um dos caçadores também me encarava sem desviar os olhos. Depois de toda essa situação, tive outra sensação pela primeira vez, vontade de ouvir o ancião falar.

_ Esses são os membros que irão ajudá-los em sua primeira missão, que será mais difícil que todos os treinamentos que já enfrentaram. Mais detalhes serão revelados no dia. _ disse o velho homem atendendo meus pedidos. _ Agora vamos ao treinamento.

Enquanto fui buscar as réplicas das minhas armas, senti dois pares de olhos me seguindo. Olhei de relance para o grupo que conversava com o ancião e percebi que aquele cara e o vampiro continuavam olhando para mim. Será que eles não percebiam o quão inconveniente estavam sendo? O vampiro devia ter achado o cheiro do meu sangue atraente, já o cara devia estar lembrando de toda a história de minha infância (que ficou muito conhecida), e devia estar imaginando como alguém tão jovem conseguiu liberar o sangue. Enquanto pegava as réplicas dos dois sai (a forma básica é a de uma adaga cega, com duas longas, cegas projeções acopladas à empunhadura) que eu usava para os treinos, alguém começou a falar no meu ouvido.

_ É impressão minha ou você está atraindo muitos olhares hoje? _ era a Emily _ Além de ter os olhos de um vampiro gato em você, Richard Crimson não desvia o olhar. O que você fez?

_ Que eu saiba, nada. Mas eles podiam parar com isso, está incomodando.

_ Se eu fosse você, ficava feliz. Richard é herdeiro da linhagem principal, ou seja, ele vem do casal que formou os nighthunters. Além disso, soube que o destino dele é ficar com uma caçadora, só que ela ainda não foi escolhida. Quem sabe não é você?

_ Me poupe dos seus pensamentos estranhos, guarde-os para si mesma.

Qualquer garota que entrasse no grupo não se sentiria triste com alguém como Richard Crimson olhando para ela. Ele era alto, tinha cabelos pretos e olhos verdes, e é claro, considerado um dos melhores caçadores. Mas alguma coisa me incomodava no olhar dele, mais do que o olhar do vampiro. Os olhos verdes dele traziam alguma coisa diferente, ele não me olhava com curiosidade, mas com arrogância, como se eu fosse um objeto inestimável que ele precisasse ter, proteger. Aquilo me dava raiva, e me fazia pensar que a idéia da Emily não era tão absurda. Se ele também pensasse daquele jeito, com certeza me olharia da forma como olhava. Pensar nisso me deu ainda mais raiva.

O olhar do outro também era estranho. Seus olhos castanhos eram belos de certa forma, e mesmo para um monstro, eram quase humanos. Eles me faziam sentir diferente, algo que eu não sabia explicar. Ao olhar nos olhos dele, percebi que eram muito diferentes dos olhos de Richard. O par de olhos traziam tantos sentimentos paradoxos que me assustaram. Era possível ver repugnância e desejo, arrogância e simpatia, curiosidade e algo como a raiva por senti-la. Isso não era normal, nem mesmo para uma criatura sobrenatural que não se encaixa nos padrões da normalidade humana.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Capítulo 1- Visão de Futuro



        PEEEEH.PEEEEH.
        Um dia eu tenho certeza que vou jogar esse despertador longe, embora eu já tenha prometido fazer isso algumas milhares de vezes. Ao olhar pela janela percebi que o dia da cidade de La Ronge, no Canadá, estava nublado, quase que simbolizando o meu humor. Me virei para o espelho e tentei focalizar a imagem de uma garota de 1,60m, cabelos castanhos e meio ondulados e olhos bem escuros. Mal dava para acreditar que eu já tinha 16 anos, já que pra mim, nada havia mudado.
        Ao tomar banho tentei esquecer a cena do meu terrível pesadelo, que me perseguia desde os 8 anos de idade, quando eu vivenciei aquela cena horrível que mudou minha vida para sempre. Enquanto me arrumava para a escola revia todas aquelas cenas: meu pai gritando desesperado, aquela figura monstruosa de dar arrepios...
        _ Lizzie, ta na hora do café!_ gritou meu pai do térreo.
        _ Já vou descer.
        Ao chegar na cozinha o cheiro de panquecas invadiu meu estômago e fez perceber que eu estava faminta. Esse estado de fome era quase constante em minha vida a partir do dia em que iniciei meus treinos.
        _ Bom dia, minha querida! Você não parece muito animada hoje. Nem parece que o “Grande dia” está chegando. Me mostre um sorriso.
        Me esforcei para dar ao meu pai o sorriso que ele queria, mas estava com a boca cheia de panquecas e acredito que a visão não tenha sido tão bela. Acabei de comer peguei minha bolsa e saí correndo para a escola. Ao fundo ouvi meu pai gritar me lembrando do treino a tarde.
        Quando as pessoas ouviam meu pai falando sobre o “Grande dia”, ou sobre meus treinos diários, elas acreditavam que meu pai falava de algum esporte que eu praticava, e é claro, meu pai reforçava os rumores. Todo mundo acredita que o mundo é completamente normal, e que a maldade está na mente de terroristas, ladrões e corruptos. Quem me dera se o mundo fosse normal assim, porque aí, minha vida também seria normal.
        Eu fazia parte de um grupo seleto, que havia sido formado há 500 anos. Os genes foram passando por várias gerações até chegar em mim. Havia outros da minha idade que também estavam treinando, já que tinham o mesmo destino que eu. Nós eramos os nighthunters, ou caçadores da noite, um grupo de humanos com habilidades desenvolvidas para lutar contra criaturas noturnas que ameaçavam a vida. Ou seja, enquanto os pais preparam os filhos para serem médicos ou advogados, o meu me preparava para caçar vampiros, lobisomens, transmorfos entre outros. Estava tão distraída que só percebi que alguém me chamava quando a pessoa gritou no meu ouvido.
        _ Quando você fica pensando com essa concentração, o mundo pode desabar e você nem notar, né Lizzie _ disse Mike numa voz animada.
        O Mike era meu amigo de infância e todo dia ia para a escola comigo. Ele também treinava para ser um nighthunter, mas ele enxergava tudo com um otimismo incrível e acreditava que essa era a melhor coisa da vida dele. Na nossa escola também estudava a Emily, nossa outra melhor amiga que viu seu futuro destruído para caçar monstros. Além de nós três, haviam mais quatro garotos que seguiam o nosso mesmo destino. A mais nova geração dessa classe de seres humanos.
        _ E aí, Lizzie? Dormiu bem?
        _ É claro que sim.
        _ Animada para sexta à noite?
        _ Você sabe muito bem o tipo de animação que eu tenho quando se trata desse assunto.
        _ Fala sério, Lizzie. Você é a melhor de nós, é seu dever ficar anim...
        _ Me espera genteeee! _ gritou uma garota que estava bem distante.
        Ficamos alguns minutos parados esperando que ela nos alcançasse.
        _ Finalmente. _ disse ela _ Por que vocês não me esperaram?
        _ Porque você demora demais. _ respondeu Mike.
        Essa era a Emily. Apessoa mais confiável que eu conhecia, apesar de nunca conseguir chegar na hora. Enquanto Mike e e ela brigavam por conta do atraso, eu pensava nos treinos. Eu e a Emily éramos as únicas garotas da “nova geração”, e ela, infelizmente, também pensava como Mike. Os treinos até que não eram ruins, já que eu tinha os dois do meu lado para amenizar a situação. Mas a partir de sexta à noite tudo iria mudar. Seria nossa iniciação, e os trabalhos em conjunto com eles seria raro, já que também eram inexperientes como eu, e no início todos devem ter uma orientação.
        Eu era considerada a melhor do grupo, por isso todos tinham altas expectativas em mim. Eu havia sido a primeira a acordar o meu sangue, pois a média era aos dez anos, e comigo aconteceu aos oito. Além disso, minhas habilidades haviam se desenvolvido de forma fantástica, como se eu tivesse realmente vontade de fazer o que fazia. Segundos os nossos mestres, erros não eram admissíveis, no meu caso então, eram coisas terríveis. Prestar atenção era quase impossível, já que , ouvir muitas lendas ao mesmo tempo é cansativo.
        De todas essas lendas, a mais interessante era a do início dos nighthunters. Segundo o que diziam, tudo começou quando um vampiro se apaixonou por uma humana. O amor era mais forte que o desejo pelo sangue, por isso a união deu certo. Mas as criaturas más já existiam naquela época, e atacavam cada vez mais humanos. Então, o casal juntou um poderoso exército de humanos e vampiros e presenteou a cada um dos guerreiros com uma poderosa arma de prata, forjada com artes secretas conhecidas somente pelos mais poderosos. Esses guerreiros caçavam e destruíam monstros que faziam mal aos seres humanos. Cada guerreiro teve apenas um filho, assim com o casal que os reuniu. Aquelas crianças herdaram a vontade e a força dos pais, e também suas armas. Aquelas armas aumentavam as habilidades de seu usuário, tornando-os guerreiros natos. Com o passar dos anos, os lobisomens também se juntaram ao grupo, fazendo com que essa linhagem genética se fortalecesse ainda mais. Todas as gerações dos guerreiros só tiveram um filho, por isso o sangue não se espalhou muito. As armas também eram passadas de geração a geração, traziam consigo uma peculiaridade, eram elas que decidiam a raça e a pessoa (ou ser) com quem o caçador iria se casar. Ou seja, eu não tinha livre arbítrio para nada, seja o meu futuro, ou o meu futuro amor.
        _ Lizzie, você tá sonhando acordada de novo? _ perguntou a Emily.
        _ Não. _ respondi _ Apenas pensando no treino de hoje, é o último, certo?
        _ Sim, não é emocionante _ disse Mike animado.
        _ Claro _ respondi desanimada.
        Enquanto eu pensava no meu último treino, a sineta tocou, avisando o início das aulas. Nós três éramos da mesma classe, por isso fomos juntos em direção a sala.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Prólogo




        Era de noite e minha visão estava turva. Eu queria gritar, mas minha voz não saia, eu queria correr, mas minhas pernas não obedeciam. Tudo o que eu conseguia fazer era ficar ajoelhada próxima ao corpo de minha mãe estirado no chão e olhar para a criatura monstruosa em minha frente.
        Meu pai, todo machucado gritava para que eu fugisse, mas o medo e a raiva que eu sentia não permitiam. Foi somente quando a raiva chegou ao seu ápice e subiu minha cabeça, que eu me movi e então....