quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Capítulo 1- Visão de Futuro



        PEEEEH.PEEEEH.
        Um dia eu tenho certeza que vou jogar esse despertador longe, embora eu já tenha prometido fazer isso algumas milhares de vezes. Ao olhar pela janela percebi que o dia da cidade de La Ronge, no Canadá, estava nublado, quase que simbolizando o meu humor. Me virei para o espelho e tentei focalizar a imagem de uma garota de 1,60m, cabelos castanhos e meio ondulados e olhos bem escuros. Mal dava para acreditar que eu já tinha 16 anos, já que pra mim, nada havia mudado.
        Ao tomar banho tentei esquecer a cena do meu terrível pesadelo, que me perseguia desde os 8 anos de idade, quando eu vivenciei aquela cena horrível que mudou minha vida para sempre. Enquanto me arrumava para a escola revia todas aquelas cenas: meu pai gritando desesperado, aquela figura monstruosa de dar arrepios...
        _ Lizzie, ta na hora do café!_ gritou meu pai do térreo.
        _ Já vou descer.
        Ao chegar na cozinha o cheiro de panquecas invadiu meu estômago e fez perceber que eu estava faminta. Esse estado de fome era quase constante em minha vida a partir do dia em que iniciei meus treinos.
        _ Bom dia, minha querida! Você não parece muito animada hoje. Nem parece que o “Grande dia” está chegando. Me mostre um sorriso.
        Me esforcei para dar ao meu pai o sorriso que ele queria, mas estava com a boca cheia de panquecas e acredito que a visão não tenha sido tão bela. Acabei de comer peguei minha bolsa e saí correndo para a escola. Ao fundo ouvi meu pai gritar me lembrando do treino a tarde.
        Quando as pessoas ouviam meu pai falando sobre o “Grande dia”, ou sobre meus treinos diários, elas acreditavam que meu pai falava de algum esporte que eu praticava, e é claro, meu pai reforçava os rumores. Todo mundo acredita que o mundo é completamente normal, e que a maldade está na mente de terroristas, ladrões e corruptos. Quem me dera se o mundo fosse normal assim, porque aí, minha vida também seria normal.
        Eu fazia parte de um grupo seleto, que havia sido formado há 500 anos. Os genes foram passando por várias gerações até chegar em mim. Havia outros da minha idade que também estavam treinando, já que tinham o mesmo destino que eu. Nós eramos os nighthunters, ou caçadores da noite, um grupo de humanos com habilidades desenvolvidas para lutar contra criaturas noturnas que ameaçavam a vida. Ou seja, enquanto os pais preparam os filhos para serem médicos ou advogados, o meu me preparava para caçar vampiros, lobisomens, transmorfos entre outros. Estava tão distraída que só percebi que alguém me chamava quando a pessoa gritou no meu ouvido.
        _ Quando você fica pensando com essa concentração, o mundo pode desabar e você nem notar, né Lizzie _ disse Mike numa voz animada.
        O Mike era meu amigo de infância e todo dia ia para a escola comigo. Ele também treinava para ser um nighthunter, mas ele enxergava tudo com um otimismo incrível e acreditava que essa era a melhor coisa da vida dele. Na nossa escola também estudava a Emily, nossa outra melhor amiga que viu seu futuro destruído para caçar monstros. Além de nós três, haviam mais quatro garotos que seguiam o nosso mesmo destino. A mais nova geração dessa classe de seres humanos.
        _ E aí, Lizzie? Dormiu bem?
        _ É claro que sim.
        _ Animada para sexta à noite?
        _ Você sabe muito bem o tipo de animação que eu tenho quando se trata desse assunto.
        _ Fala sério, Lizzie. Você é a melhor de nós, é seu dever ficar anim...
        _ Me espera genteeee! _ gritou uma garota que estava bem distante.
        Ficamos alguns minutos parados esperando que ela nos alcançasse.
        _ Finalmente. _ disse ela _ Por que vocês não me esperaram?
        _ Porque você demora demais. _ respondeu Mike.
        Essa era a Emily. Apessoa mais confiável que eu conhecia, apesar de nunca conseguir chegar na hora. Enquanto Mike e e ela brigavam por conta do atraso, eu pensava nos treinos. Eu e a Emily éramos as únicas garotas da “nova geração”, e ela, infelizmente, também pensava como Mike. Os treinos até que não eram ruins, já que eu tinha os dois do meu lado para amenizar a situação. Mas a partir de sexta à noite tudo iria mudar. Seria nossa iniciação, e os trabalhos em conjunto com eles seria raro, já que também eram inexperientes como eu, e no início todos devem ter uma orientação.
        Eu era considerada a melhor do grupo, por isso todos tinham altas expectativas em mim. Eu havia sido a primeira a acordar o meu sangue, pois a média era aos dez anos, e comigo aconteceu aos oito. Além disso, minhas habilidades haviam se desenvolvido de forma fantástica, como se eu tivesse realmente vontade de fazer o que fazia. Segundos os nossos mestres, erros não eram admissíveis, no meu caso então, eram coisas terríveis. Prestar atenção era quase impossível, já que , ouvir muitas lendas ao mesmo tempo é cansativo.
        De todas essas lendas, a mais interessante era a do início dos nighthunters. Segundo o que diziam, tudo começou quando um vampiro se apaixonou por uma humana. O amor era mais forte que o desejo pelo sangue, por isso a união deu certo. Mas as criaturas más já existiam naquela época, e atacavam cada vez mais humanos. Então, o casal juntou um poderoso exército de humanos e vampiros e presenteou a cada um dos guerreiros com uma poderosa arma de prata, forjada com artes secretas conhecidas somente pelos mais poderosos. Esses guerreiros caçavam e destruíam monstros que faziam mal aos seres humanos. Cada guerreiro teve apenas um filho, assim com o casal que os reuniu. Aquelas crianças herdaram a vontade e a força dos pais, e também suas armas. Aquelas armas aumentavam as habilidades de seu usuário, tornando-os guerreiros natos. Com o passar dos anos, os lobisomens também se juntaram ao grupo, fazendo com que essa linhagem genética se fortalecesse ainda mais. Todas as gerações dos guerreiros só tiveram um filho, por isso o sangue não se espalhou muito. As armas também eram passadas de geração a geração, traziam consigo uma peculiaridade, eram elas que decidiam a raça e a pessoa (ou ser) com quem o caçador iria se casar. Ou seja, eu não tinha livre arbítrio para nada, seja o meu futuro, ou o meu futuro amor.
        _ Lizzie, você tá sonhando acordada de novo? _ perguntou a Emily.
        _ Não. _ respondi _ Apenas pensando no treino de hoje, é o último, certo?
        _ Sim, não é emocionante _ disse Mike animado.
        _ Claro _ respondi desanimada.
        Enquanto eu pensava no meu último treino, a sineta tocou, avisando o início das aulas. Nós três éramos da mesma classe, por isso fomos juntos em direção a sala.

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